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Foto do escritorMarlene Mannarino

Eu, o menino e o cachorro


Olá, meus irmãos: Que a paz de Jesus e o amor de Maria estejam com cada um de vocês. Essa historinha nos transmite uma lição bem oportuna. E, se quisermos correlacioná-la à nossa festa de ontem, é sempre bom lembrar que vale muito a pena parar de olhar para as nossas dores e dificuldades e percebermos que na ACVM temos a oportunidade de, servindo aos irmãos que o Senhor colocar em nosso caminho, podermos mudar o nosso jeito de nos ver e de ver o que nos cerca. Com muito carinho, sua irmã em Cristo, que os ama muito: Marlene


Eu, o menino e o cachorro.


E eu só reclamava da vida, reclamava da noite porque eu não dormia, reclamava do dia porque eu sofria, reclamava do frio que me gelava a

alma, reclamava do calor que me atirava ao desânimo.


Para tudo e para todos eu tinha uma resposta, para a minha derrota eu sempre tinha um culpado, para o meu desamor sempre tinha um alguém, para tudo uma reclamação, eu era o próprio azedume.



Ai de quem me criticasse, que apontasse o erro que eu não enxergava, para tudo tinha que haver um culpado, eu era a vítima do sistema, das pessoas, do mundo, eu sempre fui traído, enganado, sofrido.


Carregava aquela cruz pesada de ódio, e eu só reclamava da vida, seja de noite, seja de dia.


Até que um dia, um menino, desses meninos de rua, me pediu uma ajuda, e eu já estava pronto para ofendê-lo, quando ele pegou na minha mão e arrastou-me, se é que um menino tão pequeno teria essa força. No canto da rua ele me mostrou um cachorro muito sujo, que estava com a pata como que quebrada e cheio de feridas. O menino puxou a minha mão e fez chegar perto do cachorro. Ele olhava pra mim e depois para o cachorro, e falou numa voz que eu não consigo esquecer: - Moço, sara ele pra mim! é o meu melhor amigo.


Não sei porque e nem quero saber, mas eu não aguentei e chorei. Chorei como criança, como quem abre uma torneira, como se uma porta que estava fechada há muito tempo dentro de mim, se abrisse escancaradamente.


O menino não entendeu o meu choro e perguntou: - Ele vai morrer moço? é grave assim?


Despertei do meu choro e agarrei aquele cachorro com muito cuidado. Levei-o até a minha casa, poucos quarteirões dali, e tratei daquele cachorro como se fosse um filho, e o menino, que vivia pelas ruas, foi ficando, e cuidou de mim, curou minhas feridas, antes mesmo de eu curar as feridas do cachorro.


Hoje, não reclamo mais de nada, tudo para mim tem um sentido, tudo é perfeito, até o que dá errado. Faz 16 anos que o menino de rua pegou na minha mão, mudou a minha vida, transformou esse ser. Mostrou-me o caminho do amor, amor que restaura, cura, seca feridas, renova, traz esperança, e esperança é o nome do amor.


E esse menino, que hoje me chama de pai, destranca portas e janelas da minha alma todos os dias, quando segura na minha mão e me agradece por cada coisa tão pequena, os banhos, as roupas, a comida, a escola, a adoção, coisas que muita gente tem e não dá nenhum valor, ele me recompensa com carinho e dedicação.


Hoje é a sua formatura, e eu nem sei o que dizer, sou grato a Deus por ele entrar na minha vida, por quebrantar meu coração, e não largar mais a minha mão.


Hoje eu bendigo a vida. Valorize a sua vida, preencha-a com o amor.

(Paulo Roberto Gaefke )

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